02/01/2008

O cirurgião clandestino

Por motivos diferentes, muitos dos grandes homens da história da humanidade passam pela vida sem qualquer reconhecimento.





Alguém já ouviu falar de Hamilton Naki?


Hamilton Naki, um sul-africano negro de 78 anos, morreu no final de Maio de 2005. A notícia passou despercebida, mas a história dele é uma das mais extraordinárias do século 20.

Naki era um grande cirurgião. Foi ele quem retirou do corpo da doadora o coração transplantado para o peito de Louis Washkanky em Dezembro de 1967, na cidade do Cabo, na África do Sul, na primeira operação de transplante cardíaco humano bem-sucedida.

É um trabalho delicadíssimo. O coração doado tem de ser retirado e preservado com o máximo cuidado.

Naki era talvez o segundo homem mais importante na equipe que fez o primeiro transplante cardíaco da história mas não podia aparecer porque era um negro no país do apartheid. O cirurgião – chefe do grupo, o branco Christiaan Barnard, tornou-se uma celebridade instantânea mas Hamilton Naki não podia nem sair nas fotografias da equipa. Quando apareceu numa, por descuido, o hospital informou que era um auxiliar de limpeza. Naki usava jaleco e máscara, mas jamais estudara medicina ou cirurgia. Tinha largado a escola aos 14 anos e era jardineiro na Escola de Medicina da Cidade do Cabo mas como aprendia depressa e era curioso rapidamente se tornou-se no faz-tudo na clínica cirúrgica da escola onde os médicos brancos treinavam as técnicas de transplante em cães e porcos. Ele começou por limpar os chiqueiros e aprendeu cirurgia ao assistir ás experiências com os animais. Tornou-se um cirurgião excepcional, a tal ponto que Barnard o requisitou para sua equipa.

Era uma quebra das leis sul-africanas.

Naki sendo negro não podia operar pacientes nem tocar no sangue de brancos. Mas o hospital abriu uma excepção para ele que se tornou um grande cirurgião, embora sempre clandestino. Era o melhor, dava aulas aos estudantes brancos mas ganhava o ordenado de um técnico de laboratório que era o máximo que o hospital podia pagar a um negro. Vivia numa barraca sem luz eléctrica nem água corrente, num gueto da periferia.

Hamilton Naki ensinou cirurgia durante 40 anos e reformou-se com uma pensão de jardineiro, de 275 dólares por mês. Depois que o apartheid acabou, ganhou uma condecoração e um diploma de médico honoris causa.




Nunca reclamou das injustiças que sofreu a vida toda.

6 Papeis:

Ni disse...

São pessoas assim que nos fazem ver o quanto, por vezes, somos invejosos a pensar e a contar que os outros têm de reconhecer o nosso inteiro valor senão naõ nos sentimos felizes. Talvez a palavra mais certa seja desiludidos! Quando esse mesmo reconhecimento está no bem e na vida que damos aos outros através desse valor, não há felicidade maior do que ver no sorriso ou noutra manifestação emocional o que fizemos.
E, de certeza,que foi o que aconteceu com Hamilton Naki. Não se sentia injustiçado pois o fazia com gosto e a melhor recompensa eram os seus resultados!

Beijinho muito grande da Ni***

Anónimo disse...

Belo texto sobre um homem fascinante... Conhecia parte da história de H. Naki. Fiquei a conhecê-la melhor e fui reler textos por vários sites, mas tu deste esse empurrão ... Heróis anónimos, incógnitos pela cobardia de mentes pseudo superiores que afinal só o são na ignorância e na vileza... Um beijão para ti ...

Manuela Peixoto disse...

pena que grandes senhores e senhoras permaneçam num anonimato tão triste, mas para mim o mais importante é que aqueles que realmente importam na vida desse grande senhor, esses vão sempre lembrar-se dele!!!!

Anónimo disse...

olha eu não fazia a mínima ideia.. tás a ver que tenho a mania que sei tudo e acabo por descobrir uma coisa nova? Ah minha flauta, estive fora mas regresso sempre.. aqui claro, o citadel ainda tá no fundo do mar e vou pensar se o vou pescar de novo ou não.. entretanto, o Doutor Barnard ficou com os louros do Naki?? tss, se ele quisesse também podia ter feito mais referência quando apareceu nas reportagens a falar do seu famoso transplante. Podia ter sido humilde..
enfim..

O homem branco tem um destino trágico

A começar por mim

Que adoro filsofar

beijos ao Naki!

Anónimo disse...

fui eu ali em cima.. poçaa

Sónia disse...

Meninas, beijinhos doces para todas, fico sempre muito feliz quando vos vejo por aqui.

Espero que gostem da edith, além de uma mulher admirável, a voz dela é uma das minhas paixões...

 
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