30/06/2008

Sal de Aveiro

(Foto:Victor Coutinho)


Longe vai o tempo em que a faina do sal dominava Aveiro.

A cidade que já foi o maior centro produtor e exportador português de sal é hoje apenas uma sombra do que era em 1970, quando ainda existiam activas cerca de 270 marinhas produzindo aproximadamente 60.000 toneladas anuais de sal. Hoje encontram-se apenas 39, das quais apenas 15 mantêm a actividade, sendo que algumas são dedicadas à piscicultura. De referir que existem documentos históricos que tornam conhecida a actividade das salinas de Aveiro no longínquo ano de 959, segundo prova o testamento da Condessa Mumadona Dias, que doa toda a região ao mosteiro de Guimarães. "Suis terras in Alauario et Salinas", – esta a primeira referência conhecida.

Decorrido mais de um milénio, os hábitos presentes em que as salgadeiras deram lugar aos frigoríficos e a concorrência com marinhas maiores modernizadas com equipamentos que substituíram a mão de obra humana dos marnotos gerando produção a baixo custo, bem como a importação de sal que chega a ser seis vezes mais barato do que o tradicional, são causas apontadas para a ruína do sal de Aveiro.

Ainda assim, o interesse turístico da Ria e das Salinas vai fazendo com que persista alguma preocupação na preservação paisagística, pelo menos às portas da cidade. Para que a história não se perca foi criado o Ecomuseu da Troncalhada onde se podem observar os ancestrais métodos de salinicultura da região aveirense. Numa localização privilegiada e de fácil acesso, trata-se de uma visita a não perder nesta bela cidade que não pára de crescer.

23/06/2008

O nosso mundo


Um grupo de jovens. Uma noite de sexta-feira. Uma festa de aniversário madrugada fora. Um regresso a casa. Uma mulher bonita. Um piropo. Um homem que não gosta. Um murro. Uma queda. Um passeio. Uma ambulância. Um coma. Um avô que chora, quer trocar de lugar com o neto. Não existem escolhas. Vidas destruídas num momento. O mundo nunca mais será igual.

O funeral do Nuno é amanhã. Tinha 16 anos.

15/06/2008

Criopreservação de células estaminais







Começa a ser comum nos dias de hoje a preservação das células estaminais presentes no cordão umbilical na altura do nascimento. Este método já apelidado de seguro de vida permite, no caso de um aparecimento no futuro de doenças graves, que as células recolhidas e criopreservadas sejam usadas em transplantes para curar doenças em que os tecidos foram perigosamente danificados, sendo a sua utilização possível em mais de 60 doenças graves, de foro hematológico, oncológico e nas doenças genéticas.




Nos casos de transplante de medula óssea, a Criopreservação vem pôr termo a uma exaustiva e desesperada espera de um dador compatível, reduzindo consideravelmente os casos de insucesso na cura da doença, em que 20 a 40% não conseguem encontrar um dador compatível em tempo útil, além de combater também o risco de infecções oportunistas e suprimir os riscos de incompatibilidade imunológica dador/paciente. O transplante das células umbilicais permite ainda uma melhor reconstituição do sistema hematopoiético, comparativamente ao transplante de células de medula óssea.




A recolha das células umbilicais efectua-se de uma forma indolor e não envolve qualquer risco tanto para a mãe como para o bebé, pois este já se encontra desligado do cordão umbilical, o que significa que a técnica é totalmente não invasiva. Em 48 horas as células são criopreservadas e armazenadas por um período mínimo de 20 anos.




Em Portugal existem empresas especializadas nesta técnica e os preços praticados rondam actualmente os €1200,00. Por este valor não valerá a pena considerar os benefícios e fazê-lo?



Mais informação em:

Bebé Vida

Crioestaminal

Bioteca

10/06/2008

Violência doméstica



A violência doméstica tem muitas vertentes, mas o que me traz hoje a este tema é a violência conjugal.

Geralmente quando se aborda este problema desenha-se quase automaticamente na nossa frente o rosto desfigurado de uma mulher, embora todos saibamos que também existem agressões da mulher para com o parceiro estas são muito menos divulgadas, especialmente por vergonha.

Ainda está presente na nossa sociedade que o homem é o mais forte, é a cabeça do casal, é quem tudo pode, tudo quer e tudo manda e talvez por isso a confissão de ser alvo de agressão conjugal seja para o homem a maior de todas as humilhações, impedindo-o assim de exteriorizar a sua dor.

Mas nem só isto nem sempre é verdade como do ponto de vista físico um homem não é só musculo e tal como no sexo feminino existem os de personalidade forte e temperamental e também os mais pacíficos e sentimentalistas que apesar de terem tamanho para vencerem uma luta não o conseguem fazer, tornando-se então eles vitimas.

Mas nem só murros e pontapés resumem a violência doméstica pois esta passa também por violência psicológica, envolve ofensas verbais, intimidações, gestos e atitudes agressivas e violência sócio-económica, que atinge o controle da vida social da vítima ou de seus recursos económicos. Nestes casos torna-se um problema talvez ainda mais profundo por ser menos visível. A agressão física geralmente deixa marcas corporais impossíveis de negar e muitas vezes de ocultar dando azo a que outras pessoas possam intervir e influenciar a vitima para que ganhe força para se libertar do agressor. Já quando a agressão é psicológica só quem vive no seio familiar presencia e geralmente se omite por “ser parte” do problema.

Não é fácil para ninguém libertar-se de um problema destes. Existem instituições criadas para ajudar quem precisa e muitas vezes os familiares e amigos são os primeiros a dar a mão mas importa referir que a força e a coragem de dar o primeiro passo tem que partir de dentro de cada um.



Serviços de apoio para sobreviventes de violência doméstica

Ver links aqui

http://www.amcv.org.pt/amcv_files/violencia/violdomestica_m8.html


09/06/2008

Brandi Carlile - The Story

(Banda sonora de Anatomia de Grey)

Todas essas linhas que contornam a minha face
contam a história de quem eu sou,
tantas histórias sobre por onde eu andei
e como eu cheguei ao que sou hoje.
Mas essas histórias não significam nada
Quando não se tem ninguém a quem as contar.

É verdade... Eu fui feita para ti.

Escalei topos de montanhas
nadei através de todo o oceano azul
atravessei todas as linhas, desrespeitei todas as regras
mas querido, desrespeitei-as todas por ti
Porque mesmo quando eu estava arruinada
tu fizeste-me sentir milionária
Sim, fazes-me isso e eu fui feita pra ti.

Tu vês o sorriso que está na minha boca
está a esconder as palavras que não saem
e todos os meus amigos que me acham abençoada
não sabem que minha cabeça é uma desgraça
Não, eles não sabem quem eu sou de verdade
E eles não sabem o que eu passei mas tu sabes,
Tu sabes que eu fui feita pra ti.

(Tradução)

01/06/2008

Pausa para um cigarro



Percorre a passo ligeiro o chão rotineiro e nem se dá conta que num gesto já mecânico conta outra vez os passos que conhece de cor. Da direita são 170 e da esquerda 310. Escolhe o trajecto consoante a pressa e a urgência, muitas vezes não pela premência do cigarro mas pela necessidade de ficar só, de sentir o ar, de ouvir o vento. O frio do fim da tarde de verão que a recebe arrepia-lhe a pele com um prazer inesperado, coroado com o primeiro trago do sabor a menta quente. Mudar de marca de cigarros foi uma óptima decisão, pensa Angelina enquanto se entretém buscando com os olhos as almas de quem a rodeia. Adora observar os outros e inventar vidas. Enquanto o faz esquece-se da sua e de tudo o que tem na realidade. Os olhos prendem-se na jovenzinha de saia ao xadrez que no cantinho do passeio parece aguardar que alguém chegue. Sente-lhe um coraçãozinho apertado pela ânsia, vê-lhe a expectativa a latejar nas têmporas. Deve esperar o namorado que provavelmente a vai beijar, desta vez com mais paixão, abrindo-lhe as portas do sonho que ainda não teve mas sabe existir. Sim, só pode ser isso. Pequena criança - pensa Angelina - ainda tão imaculada e tão feliz, oxalá tenha sorte. Dá por si a sorrir quando um carro pára e a menina corre para ele. Não consegue ver quem conduz, mas também não interessa. De que adianta a realidade? Dá mais uma passa, o cigarro ainda não vai a meio, gosta de fumar devagar. Passeia os olhos uma vez mais ao redor e deseja ver um príncipe num cavalo branco. Procura-o com o coração mirando um a um os homens que dão pequenos passos sem pressa queimando o tempo de um vício. Escolhe o de fato azul, parece-lhe mais triste que todos os outros que por ali vagueiam. Oferece-lhe uma vida feliz, não é difícil fazê-lo, basta transferir para ele a realidade dos sonhos que tem, na vida que sente perfeita. Perde-se na composição alegre de cada detalhe e assusta-se com o calor nos seus dedos dando conta que se esqueceu do cigarro que acabou por se consumir na brisa da noite que desce. Encolhe os ombros e deposita os restos no cinzeiro mais próximo murmurando um agradecimento pelo tempo que ele lhe deu para mais uma viajem ao país do faz de conta. Antes de entrar, num rasgo de esperança ainda olha para trás na busca do príncipe que há pouco nasceu mas já não o encontra. Adiante, pensa, afastando a desilusão - está na hora de trabalhar.

 
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